Obesidade sarcopênica, origem, dieta e exercício em seu tratamento.

A Obesidade sarcopênica (OS) se trata da ocorrência simultânea da obesidade e da sarcopênia (perda de força e massa muscular  proveniente do envelhecimento) (STENHOLM et al., 2009), aumentando demasiadamente o risco de morte com relação a existência de cada uma de forma isolada.

A patologia ainda não é muito frequente, mas existe uma tendência a aumentar seu número. Como exemplo, nos Estados Unidos já existe 10% da população afetada (STENHOLM et al., 2008) .

Abaixo, confira a tabela encontrada no artigo de Hershberger e Bollinger (2015) que destaca as diferenças clínicas de Sarcopênia, Obesidade e Obesidade Sarcopênica.

obesidade

As causas da sarcopênia e da obesidade são multifatoriais e tem sido estudadas por diversos autores, como menciona Ilich et al. (2014).

O estudo produzido por Villareal et al. (2004) menciona um comparativo entre idosos obesos e não obesos e a relação com sua qualidade de vida, onde encontraram que pessoas com idade acima de 65 anos e obesas tem o nível de qualidade de vida muito inferior a indivíduos da mesma idade que não se encontram acima do peso.

A massa muscular esquelética é ditada pelo balanço de síntese e degradação protéica, onde a atrofia se dá quando o nível de degradação é elevado ao mesmo passo que o nível de síntese diminui (SACHECK et al., 2007).

Já a Sarcopênia pode ser caracterizada pela redução do número miocelular. Este fator é especialmente relacionado as fibras tipo II (LEXELL et al., 1983). Em resposta, notamos uma diminuição na função e na força do músculo acometido.

A obesidade pode agravar sarcopenia em uma infinidade de maneiras. Primeiro, a obesidade é conhecida por causar resistência anabolizante diminuindo a resposta da síntese de proteína e a sobrecarga muscular (PATURI et al., 2010). Isto também parece intimamente associado a resistência à insulina ocasionada pela obesidade.

Portanto, as pessoas acometidas pela obesidade sarcopenica podem ser incapazes de aumentar a síntese de proteína muscular em resposta a estímulos anabólicos como alimentação e treinamento resistido. E além da resistência a estímulos anabólicos, os acometidos pela OS tendem a ter uma degradação da proteína mais acentuada (HERSHBERGER et al., 2015).

Apesar da complexidade envolvendo a degradação da proteína, estudos revelam que fatores chave para tal processo, como Miostatina, NF-kB e MuRF-1, tem degradação acentuada em indivíduos severamente obesos (HITTEL et al., 2009; SISHI et al., 2011).

Há anos foi descoberto que a obesidade ocasiona aumento da gordura corporal tanto dentro quanto entre as fibras musculares (GOODPASTER et al., 2000). Recentemente foi relatado por Hioki et al., (2015) que a infiltração da gordura na célula muscular prejudica a produção de força.

A concentração da massa muscular é um fator importante para a velocidade de ação metabólica. Portanto, a sarcopênia levando ao decréscimo da massa muscular, leva a uma diminuição do trabalho metabólico e consequentemente leva a maior concentração de tecido adiposo (HERSHBERGER et al., 2015). O sedentarismo também é uma variável importante na redução da atividade metabólica.

Tratamento relacionado a mudança no estilo de vida

Considerando as informações mencionadas anteriormente, diversos são os tratamentos propostos para esta população, em especial, envolvendo mudanças dietéticas e a prática de exercícios físicos pelos acometidos pela obesidade sarcopênica.

Alterações Dietéticas

As mudanças relacionadas a alimentação tendem a trazer melhoras no estilo de vida da população.

Gweon et al. (2010) sugere a implementação de 0,8 g/kg de massa corporal para estimular a síntese protéica. Estudo menciona que a Leucina para ter a maior influência na síntese de proteína e sua quantidade é diretamente relacionada (XU et al., 2014).

Além disso, pesquisas recentes indicaram que o consumo do essencial ácidos graxos (DHA, EPA) aumenta a taxa de síntese de proteínas do músculo esquelético (SMITH et al., 2010) e neutraliza a atrofia muscular induzida por gorduras saturadas (WOODWORTH-HOBBS et al. 2014). Naturalmente, notamos a utilização da restrição alimentar como o método utilizado para redução de gordura corporal, no entanto, esta técnica acaba resultando em reduções da massa muscular também (BREHN et al. 2003).

Weinheimer et al. (2010) produziu uma revisão onde constava 52 estudos e comparava a utilização da restrição alimentar, exercício físicos ou ambos para redução da gordura corporal. Os resultados encontrados mostram que tanto a restrição quanto o exercícios tem a mesma eficiência, no entanto, a utilização de ambos foi capaz de acentuar a redução da gordura corporal e atenuar o risco de redução da massa muscular.

Exercício Físico

A prática de exercícios físicos é capaz de ocasionar resultados acentuados no controle do peso corporal, além de prevenir a perda da massa magra, é capaz de aumentar a concentração da mesma. Outro fator muito importante é a capacidade de aceleração do trabalho metabólico, capaz de reduzir a possibilidade de aumento da gordura corporal (HORNBERGER, 2011).

Exercícios aeróbios pode ter uma influência mais direta na perda de peso e pode melhorar comorbidades cardiovasculares, tais como hipertensão arterial e resistência vascular (MOORE et al., 2009).

Portanto, a utilização do exercício físico e alterações dietéticas parece ser a medida mais interessante para os acometidos pela Obesidade Sarcopênica, onde em conjunto são capazes de reduzir a gordura corporal, aumentar a massa muscular e qualidade de vida.

Referências

  • Stenholm S, Harris TB, Rantanen T,Visser M, Kritchevsky SB, and Ferrucci L.Sarcopenic obesity: Definition, cause and consequences. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 11: 693–700, 2008.
  • Stenholm S, Alley D, Bandinelli S,Griswold ME, Koskinen S, Rantanen T,Guralnik JM, and Ferrucci L. The effect of obesity combined with low muscle strength on decline in mobility in older persons: Results from the InCHIANTI study. Int J Obes 33: 635–644, 2009.
  • Ilich JZ, Kelly OJ, Inglis JE, Panton LB, Duque G, and Ormsbee MJ. Interrelationship among muscle, fat, and bone: Connecting the dots on cellular, hormonal, and whole body levels. Ageing Res Rev 15: 51–60, 2014.
  • Villareal DT, Banks M, Siener C, Sinacore DR, and Klein S. Physical frailty and body composition in obese elderly men and women. Obes Res 12: 913–920, 2004.
  • Sacheck JM, Hyatt JPK, Raffaello A, Jagoe RT, Roy RR, Edgerton VR, Lecker SH, and Goldberg AL. Rapid disuse and denervation atrophy involve transcriptional changes similar to those of muscle wasting during systemic diseases. FASEB J 21: 140–155, 2007.
  • Lexell J, Henriksson-Larse´n K, Winblad B, and Sjo¨ stro¨m M. Distribution of different fiber types in human skeletal muscles: Effects of aging studied in whole muscle cross sections. Muscle Nerve 6: 588–595, 1983.
  • Paturi S, Gutta AK, Kakarla SK, Katta A, Arnold EC, Wu M, Rice KM, and Blough ER. Impaired overload-induced hypertrophy in obese Zucker rat slowtwitch skeletal muscle. J Appl Physiol (1985) 108: 7–13, 2010.
  • Hittel DS, Berggren JR, Shearer J, Boyle K, and Houmard JA. Increased secretion and expression of myostatin in skeletal muscle from extremely obese women. Diabetes 58: 30–38, 2009.
  • Sishi B, Loos B, Ellis B, Smith W, du Toit EF, and Engelbrecht AM. Diet-induced obesity alters signalling pathways and induces atrophy and apoptosis in skeletal muscle in a prediabetic rat model. Exp Physiol 96: 179–193, 2011.
  • Goodpaster BH, Theriault R, Watkins SC, and Kelley DE. Intramuscular lipid content is increased in obesity and decreased by weight loss. Metabolism 49: 467–472, 2000.
  • Hioki M, Kanehira N, Koike T, Saito A, Takahashi H, Shimaoka K, Sakakibara H, Oshida Y, and Akima H. Associations of intramyocellular lipid in vastus lateralis and biceps femoris with blood free fatty acid and muscle strength differ between young and elderly adults [published online ahead of print June 5, 2015]. Clin Physiol Funct Imaging 2015. doi: 10.1111/cpf.12250.
  • Gweon HS, Sung HJ, and Lee DH. Shortterm protein intake increases fractional synthesis rate of muscle protein in the elderly: Meta-analysis. Nutr Res Pract 4:375–382, 2010.
  • Xu ZR, Tan ZJ, Zhang Q, Gui QF, and Yang YM. The effectiveness of leucine on muscle protein synthesis, lean body mass and leg lean mass accretion in older people: A systematic review and metaanalysis. Br J Nutr 113: 25–34, 2014.
  • Woodworth-Hobbs ME, Hudson MB, Rahnert JA, Zheng B, Franch HA, and Price SR. Docosahexaenoic acid prevents palmitate-induced activation of proteolytic systems in C2C12 myotubes. J Nutr Biochem 25: 868– 874, 2014.
  • Smith GI, Atherton P, Reeds DN, Mohammed BS, Rankin D, Rennie MJ, and Mittendorfer B. Dietary omega-3 fatty acid supplementation increases the rate of muscle protein synthesis in older adults: A randomized controlled trial. Am J Clin Nutr 93: 402–412, 2010.
  • Brehm BJ, Seeley RJ, Daniels SR, and D’Alessio DA. A randomized trial comparing a very low carbohydrate diet and a calorie-restricted low fat diet on body weight and cardiovascular risk factors in healthy women. J Clin Endocrinol Metab 88: 1617–1623, 2003.
  • Weinheimer EM, Sands LP, and Campbell WW. A systematic review of the separate and combined effects of energy restriction and exercise on fat-free mass in middle-aged and older adults: Implications for sarcopenic obesity. Nutr Rev 68: 375–388, 2010.
  • Hornberger TA. Mechanotransduction and the regulation of mTORC1 signaling in skeletal muscle. Int J Biochem Cell Biol 43: 1267–1276, 2011.
  • Moore DR, Robinson MJ, Fry JL, Tang JE, Glover EI, Wilkinson SB, Prior T, Tarnopolsky MA, and Phillips SM. Ingested protein dose response of muscle and albumin protein synthesis after resistance exercise in young men. Am J Clin Nutr 89: 161–168, 2009.