Créditos: Prof. Esp. Emanoel Brito da Silva
O agachamento é um dos exercícios mais utilizados hoje nas academias, seja para hipertrofia dos membros inferiores, seja para a reabilitação, melhora do desempenho e até mesmo como educativo para o próprio movimento a ser realizado de maneira correta e com a utilização de mais carga.
É também conhecido como um dos exercícios mais complexos de ser realizado por iniciantes por se tratar de um movimento que envolve o tronco, quadril, joelho e tornozelo. Com tantas articulações envolvidas temos uma grande quantidades de músculos envolvidos de forma dinâmica ou isométrica incluindo abdominais, eretores de coluna, trapézio, rombóides de forma isométrica (para a estabilização do tronco) e dentre os músculos de ação dinâmica temos os glúteos, quadríceps, isquiotibiais, os gastrocnêmios, sóleos e os tíbias anteriores.
Além dessa complexidade o agachamento tem algumas variações que são vistas em várias forma de treinamento. Uma delas é a posição da barra em relação ao corpo. Podendo estar a frente do corpo chamado de front squat muito visto no levantamento de peso olímpico e a outra é a mais tradicional com a barra atrás do corpo. Devido a essas variações pesquisadores tem publicado na literatura cientifica estudos que mostram diferenças biodinâmicas das estruturas do corpo durante a realização dos exercícios.
Na revisão literária de Reiser. F et al (2013) é abordado de forma ampla outros estudos que mostram resultados da ação das forças envolvidas no agachamento no corpo com enfase na coluna.
A coluna vertebral é dividida nas regiões cervical, torácica, lombar sacral e cóccix. Sendo constituída de 7 vértebras cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e cerca de 4 coccígeas e Entre os corpos de duas vértebras adjacentes desde a segunda vértebra cervical até o sacro, existem discos intervertebrais.
Constituído por um disco fibroso periférico composto por tecido fibrocartilaginoso, chamado anel fibroso e uma substância interna, elástica e macia, chamada núcleo pulposo. Os discos formam fortes articulações, permitem vários movimentos da coluna vertebral e absorvem os impactos.
Estando sujeita a forças compressivas (axiais) e de cisalhamento (ântero-posteriores) durante o agachamento em qualquer condição. Movimentos em que a coluna é demasiadamente inclinada à frente do plano coronal estarão submetidos ao aumento de forças desta natureza.
No estudo de Capozzo et al (1985) analisaram através de modelo matemático, a compressão axial exercida em L3- L4 no agachamento posterior com diferentes amplitudes de movimento. Quatro indivíduos executaram o agachamento posterior parcial (agachamento com aproximadamente 90o de flexão de joelho); e o agachamento posterior meio parcial (agachamento com aproximadamente 50o de flexão de joelho). A carga utilizada foi 80% a 160% vezes o peso corporal. As forças compressivas calculadas pelos autores variaram aproximadamente 6 a 10 vezes o peso corporal (3100-7324N). E Hartmann et al (2012) Evidenciaram, através das mensurações de Capozzo et al (1985) Que, os valores de compressão discal no segmento de L3-L4, podem exceder em até 20 vezes o peso corporal, em indivíduos agachando com 126% a 141% vezes o peso corporal. Desta forma, a combinação de sobrecarga externa, com forças compressivas e decisalhamento pode elevar a chance do prolapso discal.
Em outro estudo de Capozzo et al (1985) Avaliaram a solicitação de eretores da coluna no agachamento posterior meio parcial, e parcial em 30% a 50% a contração isométrica máxima. Conforme o tronco é inclinado à frente, à solicitação de músculos dos membros inferiores diminui; enquanto os músculos eretores da coluna aumenta, contudo a sobrecarga articular imposta na coluna lombar aumenta o que necessita de uma maior resistência e fortalecimento dos músculos do tronco.
Gullet et al (2009) Evidenciam a participação de eretores da coluna, durante no agachamento com posicionamento da barra anterior e posterior em 15 indivíduos treinados. A atividade muscular de eretores da coluna foi superior na fase ascendente (concêntrica) comparado a descendente (excêntrica). O posicionamento da barra anteriormente foi superior à condição posterior, porém sem significância estatística. O agachamento anterior durante deslocamento vertical da barra aparentemente impõe menor sobrecarga à coluna vertebral comparado ao agachamento posterior; possivelmente em virtude de uma menor inclinação da coluna vertebral, o que é determinante na magnitude de compressões e cisalhamentos no disco intervertebral. Desta forma este modificação de posicionamento da barra é eficiente assim como agachamento posterior. Devendo ser uma estratégia interessante no treinamento de força e reabilitação de lesões para indivíduos intolerantes a magnitudes abruptas de sobrecarga na coluna vertebral.
Um estudo muito interessante feito por Adams et al (2000) mostra a capacidade compressiva máxima do disco intervertebral. Foram mensurados em trinta e oito cadáveres até a ruptura. O limite do disco, alçado até a falha, foi de aproximadamente em 6700(±2700)N; estes números estão aproximados dos reportados pelo agachamento com carga externa. Contudo, forças de compressão axial, durante longo período de tempo, podem levar a adaptações na coluna vertebral.
E um estudo que mostra essas adaptações, foi feito por Conroy et. al. (1993) evidenciaram em atletas de levantamento olímpico da elite júnior, maior capacidade de tolerância à compressão axial, aumento da densidade mineral óssea, assim como adaptações funcionais dos corpos vertebrais, quando comparado a indivíduos do grupo controle.
O agachamento apresenta variações técnicas, utilizadas por diferentes esportes e atividades, quanto ao posicionamento da barra em relação ao tronco. Esta variação técnica pode alterar o centro de gravidade do conjunto sujeito-barra em relação ao posicionamento corporal. Dito isso, no artigo de Marchetti, P. et al( 2013) que cita o estudo de Stuart et al (1996) Comparou o agachamento pela frente com o agachamento por trás e não foram verificadas diferenças no estresse dos ligamentos cruzados anterior e posterior. Adicionalmente, o estudo de Gullett et al (2008) Comparou e quantificou a cinética da articulação tibiofemoral assim como a atividade muscular do reto femoral, vasto lateral, vasto medial, bíceps femoral, semitendíneo e eretores da coluna durante a execução do agachamento com a barra posicionada por trás e a frente do tronco. Avaliando 15 indivíduos treinados com pelo menos um ano de experiência realizaram o agachamento frente e atrás utilizando 70% de 1RM. O estudo concluiu que o agachamento atrás resultou em mais altas forças compressivas e torques internos extensores quando comparado ao agachamento frente. As forças de cisalhamento e a atividade muscular foram similares em ambas às técnicas. Os resultados sugerem que o agachamento pela frente parece ser mais vantajoso para indivíduos com problemas de joelho, como rompimento de menisco, e para saúde articular de longo prazo.
Considerações do autor
Com isso, a atual publicação teve como objetivo mostrar as diferenças entre o agachamento com barra na frente e atrás do tronco e os resultados mostram que para caso de ativação dos estabilizadores do tronco e ligamentos do joelho o agachamento pela frente parece ser uma opção mais vantajosa, não querendo dizer que o agachamento com barra na nuca não possa ser realizado. Mas para que seja realizado com segurança é preciso que o aluno ou atleta tenha sua técnica em ótimas condições.
Referências