Escrito pelo Prof. MBA e Esp. Danilo Luiz Fambrini
A preocupação com o controle do peso corporal em atletas praticantes de Judô teve início na década de 1950, quando o esporte já internacionalizado e institucional passa a ser separado por categorias relacionadas ao peso corporal dos atletas (VILLAMON et al., 2004).
Atualmente o Judô é um esporte olímpico, com diversas categorias já criadas, desde as categorias mais jovens (abaixo de 18 anos) até as categorias envolvendo veteranos (JULIO et al., 2011), o que mostra que a preocupação com o peso corporal alcança todas as idades e ambos os gêneros nessa modalidade esportiva.
Assim como em várias outras modalidades de combate, os atletas de Judô buscam estratégias visando o aumento ou a redução do peso corporal visando ter vantagens físicas sobre os seus adversários (FRANCHINI et al., 2012). No entanto, não somente questões físicas são as razões dos cuidados com o peso corporal. Fatores psicológicos também influenciam em grande número os atletas, como se sentir um verdadeiro atleta com o físico dentro do seu ideal, ou então pelo estimulo de se ter uma meta dentro do período de treinamento (PETTERSON et al., 2013).
E será que existe uma única população que pratica essas estratégias?
Pesquisadores tem encontrado resultados significativos no uso de estratégias para controle do peso corporal precedendo combates tanto em homens (Mendes et al., 2013), quanto em mulheres (Boisseau et al., 2005), como também, em praticantes de nível nacional (Artioli et al., 2010), ou internacional (Prouteau et al., 2007). Outro fator que não difere na prática é a idade, onde estudos encontraram que tanto jovens das categorias de base (Artioli et al., 2010), quanto atletas da categoria sênior (Brito et al., 2012) utilizam as técnicas.
O estudo de Boisseau et al. (2005), relata também a preocupação com os adolescentes atletas, pois, a utilização de meios de redução acentuada de peso corporal precedendo as competições pode afetar o desenvolvimento do individuo.
Green et al. (2007) destacam em seu estudo um possível limiar de peso corporal alterado dias antes da competição, onde mencionam que a redução superior a 5% da massa corporal, aumenta demasiadamente o risco de lesões durante a competição, tornando o cuidado ainda mais necessário.
Com relação a origem das lesões ocasionadas pela rápida alteração no peso corporal do atleta, estudo menciona que as lesões ocorridas em lutadores, em especial, em judocas, podem ser musculares, nos tecidos e também, lesões ósseas (POCECCO et al., 2013).
Escobar-Molina et al. (2015), buscou em seu estudo identificar quais eram as estratégias de perda de peso mais utilizadas com relação a cada categoria de atletas e por gênero. Os voluntários foram divididos em três categorias: Cadetes (abaixo de 17 anos), Juniores (abaixo de 20 anos) e Sênior (acima de 20 anos). Os autores encontraram os seguintes resultados:
Os Cadetes do sexo masculino tiveram maior relevância na utilização da restrição alimentar (45,5%) como forma de controle do peso corporal. Já as meninas da mesma idade mostraram preferência pelo aumento da intensidade dos exercícios físicos (50%). Com relação aos Juniores, entre os homens o resultado foi o mesmo encontrado entre os Cadetes, no entanto, em maior percentual (47,4%), enquanto entre as meninas, três estratégias obtiveram mesmo nível de importância, sendo elas: Restrição alimentar, utilização de sauna e aumento na intensidade de exercícios físicos (ambos com 27,3%).
Já entre os seniores, encontra-se uma curiosidade. Apesar de também entre os meninos notarmos a restrição alimentar como o meio mais utilizado (62,2%), outra estratégia muito mencionada foi a utilização de roupas plásticas, sendo mencionada por 43,2% dos voluntários desta categoria, o que é preocupante por ser um método pouco recomendado. Entre as mulheres desta categoria, destacam-se a restrição alimentar e o aumento da intensidade dos exercícios físicos (64,5% e 54,8%, respectivamente).
Os mesmos autores também fizeram comparativo com relação a relevância da perda de peso precedendo competição, onde notaram que os sujeitos da categoria Sênior conseguiram maiores escores de redução de peso corporal. E na comparação entre os gêneros, notaram que os homens tiveram maiores níveis de perda de peso em comparação as mulheres. No entanto, consequentemente, o número de sujeitos do sexo masculino que tiveram uma perda superior a 5% do peso corporal também foi maior, o que, segundo estudo de Green et al. (2007), aumenta o risco das lesões.
Com relação a aspectos emocionais e distúrbios alimentares, os autores identificaram que as mulheres mostraram maiores níveis de ansiedade e um maior número de indicadores de disturbios alimentares em comparação aos homens.
Considerações
Como foi mencionado, são inúmeras as estratégias utilizadas pelos competidores para alcançar o peso que deseja para competir. No entanto, este é um cuidado que deve ser tomado em todas as modalidades de luta, pois, pode em casos extremos, prejudicar o rendimento do atleta e/ou ocasionar lesões.
Referências
Franchini, E., Brito, C., & Artioli, G. (2012). Weight loss in combat sports: physiological, psychological and performance effects. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 9(1), 52.
Julio, U.F., Takito, M.Y., Mazzei, L., Miarka, B., Sterkowicz, S., & Franchini, E. (2011). Tracking 10-year competitive winning performance of judo athletes across age groups. Perceptual and Motor Skills, 113(1), 139–149.
Pettersson, S., Ekstrom, M.P., & Berg, C.M. (2013). Practices of Weight Regulation Among Elite Athletes in Combat Sports: A Matter of Mental Advantage? Journal of Athletic Training, 48(1), 99–108.
Villamón, M., Brown, D., Espartero, J., & Gutiérrez-García, C. (2004). Reflexive modernization and the disembedding of judo from 1946 to the 2000 Sidney Olympics. International Review for the Sociology of Sport, 39(2), 139–156.
Mendes, S.H., Tritto, A.C., Guilherme, J.P.L.F., Solis, M.Y., Vieira, D.E., Franchini, E., . . . Artioli, G.G.. (2013). Effect of rapid weight loss on performance in combat sport male athletes: Does adaptation to chronic weight cycling play a role? British Journal of Sports Medicine, 47(18), 1155–1160.
Artioli, G.G., Gualano, B., Franchini, E., Scagliusi, F.B., Takesian, M., Fuchs, M., Lancha, A.H. Jr. (2010b). Prevalence, magnitude, and methods of rapid weight loss among judo competitors. Medicine and Science in Sports and Exercise, 42(3), 436–442.
Boisseau, N., Vera-Perez, S., & Poortmans, J. (2005). Food and fluid intake in adolescent female judo athletes before competition. Pediatric Exercise Science, 17(1), 62–71.
Brito, C.J., Castro Martins Roas, A.F., Souza Brito, I.S., Bouzas Marins, J.C., Cordova, C., & Franchini, E. (2012). Methods of Body-Mass Reduction by Combat Sport Athletes. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 22(2), 89–97.
Prouteau, S., Ducher, G., Serbescu, C., Benhamou, L., & Courteix, D. (2007). Gender differences in response to weight cycling in elite judoists. Biology of Sport, 24(2), 91–104.
Green, C.M., Petrou, M.J., Fogarty-Hover, M.L., & Rolf, C.G. (2007). Injuries among judokas during competition.Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports,17(3), 205–210.
Pocecco, E., Ruedl, G., Stankovic, N., Sterkowicz, S., Del Vecchio, F.B., Gutiérrez-García, C., . . . Burtscher, M.. (2013). Injuries in judo: a systematic literature review including suggestions for prevention. British Journal of Sports Medicine, 47(18), 1139–1143.