Crioterapia, mocinha ou vilã?

Escrito pelo Prof. Esp e MBA Danilo Luiz Fambrini

                O treinamento esportivo, principalmente o de alto rendimento, exige muito da parte física de seus praticantes e consequentemente exige uma melhor recuperação e maiores cuidados. O resfriamento pós exercício (Crioterapia) tem sido um método muito utilizado por atletas que visam a recuperação acelerada da musculatura após jogos e treinamentos.

            Tal método tem sido bem estabelecido como forma de tratamento de lesões musculares como contusões, entorses e luxações (LYNCH e RENSTRON, 1999). Segundo autores esse tratamento atenua lesão hipóxica secundária, espasmo muscular, dor e o inchaço, diminuindo temperatura do tecido, metabolismo, fluxo sanguíneo e permeabilidade vascular (KNIGHT, 1976; RIPPE e GREGA, 1978).

            Outro benefício destacado na literatura é a eficiência do método utilizando imersão na água fria na atenuação da dor muscular tardia ocasionada pelo exercício físico (BLEAKLEY e DAVISON, 2010; BEAKLEY et al., 2012, LEEDER e GISSANE, 2012).

            Portanto, além da utilização na reabilitação,a Crioterapia tem sido utilizada na recuperação muscular após exercício extenuante. No entanto, algumas dúvidas surgem sobre o mecanismo que ocasiona essa recuperação, pois, ainda não foi elucidado na literatura (YAMANE, OHNISHI, MATSUMOTO, 2015). O que é mencionado é que a Crioterapia atua diferentemente em fibras com microlesões e macrolesões.

            Mas não somente comentários positivos são encontrados na literatura. Apesar do efeito positivo com relação á reabilitação, existe dúvida sobre o uso dessa técnica na rotina de relaxamento dos atletas sem lesões. Segundo Deal et al. (2002), a exposição do corpo regularmente ao frio ocasiona reduções induzidas da permeabilidade e poderia atenuar respostas inflamatórias diminuindo a transmigração de leucócitos. Assim, as aplicações regulares da crioterapia pós-exercício podem atenuar as adaptações musculares e vasculares em resposta ao exercício. Já Yamane et al. (2006) relata em seu estudo que o prejuízo ocorre apenas á nível vascular e não muscular.

            Levando em consideração as dúvidas acerca da aplicação do método de resfriamento após sessões de treinamento, Yamane, Ohnishi e Matsumoto (2015) elaboraram pesquisa com a intenção de avaliar o aumento da massa muscular, resistência, vascularização, circunferência e força isométrica.

            Os primeiros comparativo destacado pelos autores foi sobre a espessura muscular e a circunferência, onde ambos os grupos obtiveram aumento significativo desta, porém, o grupo sem resfriamento (SR) obteve resultados significativamente maiores. Com relação a força isométrica, apenas o grupo SR teve aumento. O mesmo ocorreu quando foram comparados os resultados de diâmetro arterial.

            Acerca dos resultados sobre o tempo até a exaustão, ambos os grupos obtiveram aumentos significativos, e na comparação entre eles, não houve diferenças, o que sugere que o método não interfere nessa variável.

            Apesar de não serem elucidados os mecanismos que podem ocasionar esse efeito inibitório com a utilização freqüente do resfriamento após sessões de treinamento, os autores levantam a hipótese da influência das HSPs, proteínas relacionadas ao estresse muscular, consideradas importantes no processo de hipertrofia e adaptações musculares (THOMPSON et al., 2003). Tais proteínas são produzidas no calor, e a exposição frequente ao frio pode inibir sua síntese. Nemet et al. (2009), relata em seu estudo que além das alterações na síntese de HSPs, há também alterações na síntese de hormônios anabólicos.

Considerações

            A utilização da Crioterapia para fins de reabilitação é reforçado como um método eficaz para acelerar a recuperação muscular.

            Em regiões sem lesões, o uso continuo parece não ser adequado por inibir as adaptações musculares ocorridas no treinamento.

            Sem esclarecimentos sobre a inibição ou não vascular com a utilização do resfriamento, levanta-se a hipótese de que a utilização em determinadas partes do corpo ao invés de imersão total.