Fatores de risco de lesão em futebolistas jovens

Escrito pelo Prof. Esp e MBA Danilo Luiz Fambrini

A prevenção de lesões é uma preocupação global quando se trata de esporte de alto rendimento. Os cuidados com os atletas acontecem cada vez mais cedo, tendo em vista a maior cobrança de resultados até mesmo nas categorias de formação.

Tendo em vista essa questão, trouxemos nessa publicação considerações acerca dos fatores de risco de lesões em futebolistas das categorias de base, com o intuito informativo para treinadores, preparadores físicos e amantes do futebol e outros esportes.

As lesões de futebolistas de uma forma geral ocorrem principalmente em membros inferiores, originando-se não por contatos físicos, mas por entorses, em especial de joelhos, afetando ligamento cruzado anterior, e ligamento colateral medial, além de menisco (PRICE et al., 2004).

Os riscos de lesões podem ser potencializados nas categorias de formação devido ao envolvimento com a fase de crescimento do jovem (RUMPF e CRONIN, 2002), e devido ao avançar da carga de treinamento, pode haver sobrecarga excessiva e repetitiva, podendo aumentar o risco de lesões (HEWETT, PATERNO e MYER, 2002).

A maturação é outro fator que pode intervir nesse risco, pois, no período do estirão é aonde deve-se tomar maiores precauções, devido as diversas alterações estruturais o jovem fica suscetível a lesões (LI, et al., 1998).

Tendências recentes evidenciam uma gama de fatores de risco para lesões em jovens jogadores de futebol, em ambos os gêneros, porém, existem mais evidências cientificas relacionadas ao sexo masculino. É interessante a elaboração de pesquisas especificas por gênero com o intuito de avaliar as diferenças entre os gêneros em cada faixa etária (ALENTON-GELI et al., 2014).

Papel do crescimento e maturação

Michaud et al. (2001), relata que o crescimento e a maturação não podem ser controlados, mas devem ser monitorados devido a grande influências destes no risco de lesões em jovens atletas.

No período onde a maturação já está completa, o risco de lesões ósseas é reduzido e aumenta-se o risco das lesões musculares, apesar do aumento da massa muscular. Existem relatos que nesse período, devido ao aumento da carga de treinamento e diversas movimentações, o risco de entorses, estiramentos, entre outras lesões, se torna maior (FRIEL et al., 2006; FORD et al., 2010).

Ter consciência da individualidade de crescimento e maturação é essencial para a prevenção de lesões, pois, impede um desenvolvimento desequilibrado das estruturas musculares e articulares (LEE et al., 2009). O período do estirão merece destaque, pois, nesse momento, devido ao aumento repentino da estrutura articular, o fortalecimento muscular deve ocorrer na mesma proporção, ocasionando maior equilíbrio se efetuada de maneira adequada sem sobrecarregar excessivamente os grupos musculares (SHEEHAM, SIPPRELL e BODEN, 2012).

A literatura relata que durante o período do estirão, o adolescente passa pela fase da estranheza, na qual, ele demora um certo tempo para adequar os gestos motores que realizava com as novas estruturas como comprimento dos membros inferiores, aumento da massa muscular (PADUA et al., 2006, Lloyd e Oliver, 2012). Essa etapa pode ser mal interpretada por treinadores que pensam estar tendo dificuldades para manter o nível de seu atleta e o sobrecarrega demasiadamente, aumentando seu risco de lesões.

Habilidade de movimento

Esse fator é importante para proporcionar uma movimentação mais refinada, com melhor estabilização articular (HARMON e DICK, 1998). As frequentes estimulações neurais é capaz de posteriormente proporcionar a programação motora, atividade muscular preparatória e reflexivas, as quais atuam na estabilização conjunta (CHIMERA et al., 2004).

Os indivíduos que carecem dessa habilidades, podem comprometer sua estabilização quando alcançam a fase de puberdade (HEWETT, PATERNO e MYER, 2002). Myer, Ford e Hewett (2004) sugerem que a principal idade para aperfeiçoamento de atividades motoras é a fase pré púbere.

O desequilíbrio muscular é uma outra variável a ser considerada na ocorrência de lesões, pois, ocasionam demasiada pressão sobre a musculatura menos fortalecida, podendo ser na relação entre músculos de um mesmo membros contralaterais (MOUTJOY et al., 2008).

Fadiga

A fadiga ocorrida após uma sequência de exercícios pode ser um indicador de risco de lesões musculares, por reduzir a estabilização conjunta (OLIVER et al., 2014).

Estudos relatam que a incidência de lesões é aumentada em futebolistas que são expostos a níveis de fadiga elevadas, sendo eles profissionais ou jovens (CLOKE et al., 2009; EKSTRAND et al., 2011).

Sugere-se que em estado de fadiga os atletas são afetados por um decréscimo em seu controle motor, e consequentemente na estabilização de seus movimentos, os tornando mais suscetíveis a lesões musculares (MYER et al., 2011), em especial no final do primeiro tempo e do segundo tempo, onde já estão em estágios elevados de fadiga.

Uma questão a ser considerada é a fadiga crônica, onde pesquisadores relataram que a fadiga prolongada após o treinamento intenso ou a partida oficial causam fadiga excêntrica e atraso eletromecânico (HOGAN e GROSS, 2003). Sugere-se que isso ocorra devido a eventos pós-sinápticos (WARREN et al., 2001).

Lesão anterior

Comumente notamos a ocorrência de lesões repetitivas em uma determinada parte do corpo de atletas. De fato, a ocorrência de lesão anterior

ocasiona maior facilidade para ocorrência de uma nova lesão no mesmo local (GOOSENS et al., 2015). A ocorrência de uma lesão de joelho, por exemplo, pode alcançar níveis de até duas vezes mais risco de lesão no mesmo local (HURLEY, 1997).

É de grande importância o rastreio das lesões ocorridas anteriormente com o atleta e como foi elaborado o tratamento, pois, um retorno as partidas de forma equivocada, potencializa o risco de lesões, devido a deficiência na execução dos gestos motores e compensação devido a lesão (READ et al., 2015).

Fatores de risco devem ser cuidadosamente amenizados com métodos de treinamento com planejamento minucioso e cuidados especiais com atletas com lesões anteriores.