Influência dos tipos de respiração sobre a função cardiovascular durante o exercício

Fonte: glbimg

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A prática de exercícios físicos são amplamente recomendadas para todas as populações. Um dos mais populares métodos praticados atualmente é o Treinamento com Pesos, ou musculação. Tal prática gera diversas dúvidas, como qual carga utilizar, número de repetições, postura nos exercícios e nosso tema dessa publicação, a respiração durante o exercício. Existe muita controvérsia com relação a qual forma de respiração é mais interessante, onde uns dizem que inspirar no momento da contração é melhor, e outro grupo diz que a expiração no momento da contração é mais interessante. Mas até que ponto a respiração pode influenciar no resultado final? Na literatura sempre existiu um grande conflito com relação a influência da forma de respirar sobre as demandas cardiovasculares durante o treinamento com pesos, sendo que encontramos estudo dizendo que existe um aumento na demanda quando ocorre a inspiração na fase concêntrica (Coelho & Coelho, 1999), enquanto outro estudo não encontrou diferenças significativas entre as formas de respiração durante o exercício (LINSENBARDT et al., 1992). Única recomendação em comum entre os estudos é que não se deve utilizar a manobra de Valsalva, pois, ela é capaz de ocasionar um elevado efeito hipertensivo em diferentes modalidades de exercício físico (Finnof et al., 2003) devendo ser evitada principalmente por praticantes hipertensos. Com a intenção de encontrar um resultado em comum, Moraes et al. (2009) avaliaram adultos jovens do sexo masculino, com experiência anterior em treinamento com pesos e normotensos para identificar, com segurança, as alterações cardiovasculares ocasionadas pelo treinamento utilizando diferentes formas de respiração. Avaliando a alteração na pressão arterial e frequência cardíaca utilizando inspiração, expiração ou respiração livre na fase concêntrica do movimento. Os autores não encontraram diferenças significativas na comparação entre as formas de respiração. As únicas diferenças encontradas foram entre a 1° e 3³ séries entre as mesmas respirações, onde todas tiveram um aumento na pressão arterial com o avançar das séries, algo natural, considerando o esforço muscular. O estudo de Moraes et al. (2009) foi pioneiro em utilizar a comparação entre essas três formas de respiração. Anteriormente, diversos estudos haviam feito comparações entre formas de respiração, no entanto utilizando duas formas ou incluindo a manobra de Valsalva. Como exemplo, podemos mencionar alguns estudos, como de Linsenbardt et al. (1992), que utilizando exercício de extensão de joelho e flexão de cotovelo, com inspiração, expiração e manobra de Valsalva durante a execução, pôde notar que não houveram diferenças significativas na pressão arterial entre inspiração e expiração, no entanto, com manobra de Valsalva os valores de pressão arterial tiveram um aumento significante. O’Connor et al.(1989) dividiram sua amostra em três grupos diferentes: um grupo instruído a realizar o exercício com manobra de Valsalva; o segundo grupo orientado a não realizar a manobra; e o terceiro grupo sem qualquer tipo de instrução. Os valores de PAS e PAD aumentaram significativamente pós-exercício no grupo que efetuou a manobra de Valsalva, enquanto diminuíram de forma significativa no grupo instruído a não efetuar a manobra, não havendo diferença para o grupo sem instrução de respiração. Nesse estudo foram realizadas contrações isométricas no exercício leg press, e os resultados do grupo que não foi instruído podem ter sido elevados devido à utilização da manobra de Valsalva, haja vista que não houve qualquer tipo de instrução ou restrição. Finnoff et al. (2003) utilizaram diferentes tipos de exercícios abdominais com respiração bloqueada e respiração livre. A PAS e PAD  mostraram resultados significativamente maiores quando os exercícios foram realizados com manobra de Valsalva. Segundo os autores, indivíduos normotensos, usualmente, têm aumentos de pressão arterial e frequência cardíaca de 50mmHg durante a execução exercícios de baixa intensidade, mas esses valores são significativamente aumentados quando se realiza a manobra de Valsalva.   Considerações Aparentemente, de acordo com a literatura encontrada, não são encontradas diferenças significativas entre inspirar, expirar ou respirar livremente durante o Treinamento com Pesos. Os autores são unânimes na indicação de que uma coisa é certa: Não é interessante praticar a manobra de Valsalva, ou seja, o importante é respirar durante o exercício e não “trancar” a respiração, pois, promove aumentos significativos na pressão arterial durante e após o exercício, o que não ocorre com respiração regular, pois, após a prática, os níveis de frequência cardíaca e pressão arterial são reduzidas, até mesmo se encontrando abaixo da pressão arterial encontrada antes do exercício.   Referências
  • Linsenbardt ST, Thomas TR, Madsen RW. Effect of breathing technique on blood pressure response to resistance exercise. Br J Sports Med. 1992;26(2):97-100.
  • Coelho RW, Coelho YB. Estudo comparativo dos diferentes tipos de respiração na musculação. Rev Treinamento Desportivo. 1999;4(1):8-13.
  • Finnoff JT, Smith J, Low PA, et al. Acute hemodynamic effects of abdominal exercise with and without breath holding. Arch Phys Med Rehabil. 2003;84:1017-1022.
  • MORAES, J.F, FERNANDES, D.A, SILVA, A.R.,FIGUEIREDO, T.,SIMÃO, R., MIRANDA, H. Respostas Cardiovasculares Agudas ao Treinamento de Força Utilizando Diferentes Padrões de Respiração. Rev SOCERJ. 2009;22(4):219-224
  • O’Connor P, Sforzo GA, Faye P. Effect of breathing instruction on blood pressure responses during isometric exercise. Phys Ther. 1989;69:757-61.