Síndrome da dor Fêmoropatelar: entenda o que é e como procede sua reabilitação

Créditos: Prof. Esp. Emanoel Brito da Silva

Fonte da imagem: aptonia

Segundo Fukuda et al (2010) e Coppack et al (2011) a Síndrome da Dor Femoropatelar (SDFP) é caracterizada por dor na região frontal do joelho, que se agrava durante atividades que aumentam as forças compressivas na articulação femoropatelar (AFP).

Algumas das atividades podem ser a caminhada, corrida,saltos, agachamentos, subida ou descida de escadas e longos períodos na posição sentada (DAVIS et al 2010).

É uma das lesões mais comuns por overuse ( lesão na articulação repetições excessivas) do membro inferior, portanto é mais prevalente em indivíduos fisicamente ativos, apesar de também acometer sedentários (DAVIS ET AL 2010; LANKHORST ET AL 2012). A lesão representa cerca de 25% de todas as lesões da articulação do joelho tratadas nas clínicas de medicina esportiva, sendo que afeta principalmente o sexo feminino (BAQUIE ET AL 1997).

Segundo Fulkerson et al (1997) é uma das afecções mais comuns da articulação do joelho encontrada nos adolescentes e adultos jovens. A etiologia da SDFP é considerada multifatorial e ainda não está claramente definida, entretanto alguns autores relacionam sua origem com alterações biomecânicas e estruturais dos membros inferiores, tais como anteversão do colo femoral, aumento da adução e rotação medial do quadril, desequilíbrios musculares no quadril e joelho, a fraqueza ou a atrofia do músculo vasto medial oblíquo, a torção tibial externa, a hiperpronação subtalar, a displasia troclear, a patela alta, a rigidez do trato iliotibial e a fraqueza dos músculos abdutores e rotadores laterais do quadril (LEE ET AL 2003; POWERS ET AL 2003 E WITVROW ET AL 2000).

No trabalho de revisão feito por Nakagawa et al (2008) cita alguns trabalhos no tratamento do SDFP como por exemplo Ireland et al (2003), onde os autores comparam a força isométrica máxima dos músculos abdutores e rotadores laterais do quadril de 15 indivíduos do sexo feminino portadores da SDFP e 15 indivíduos saudáveis. Os autores relataram diminuição de 26% da força dos músculos abdutores e 36% da força dos músculos rotadores laterais do quadril do grupo com SDFP quando comparado ao grupo sem SDFP.

Em um outro estudo mais recente, Piva et al. investigaram a força isométrica máxima dos adutores e rotadores laterais do quadril, além da flexibilidade dos músculos quadríceps, isquiotibiais, gastrocnêmio, sóleo e trato iliotibial/tensor da fáscia lata em 30 sujeitos com dor (17 mulheres e 13 homens) e 30 controles pareados para idade e gênero (17 mulheres e 13 homens). No grupo com a dor, foi encontrada menor flexibilidade dos músculos gastrocnêmio, sóleo, isquiotibiais e quadríceps. O grupo com dor não apresentou diferença na força dos músculos do quadril quando comparado ao grupo controle, porém, na análise estatística,  dos indivíduos com e sem dor, o comprimento do músculo gastrocnêmio e sóleo e a força dos músculos abdutores do quadril foram identificados como variáveis significativas e discriminantes, de forma que os autores sugeriram que futuros estudos em indivíduos com dor sejam realizados combinando estas variáveis.

Nakagawa et al (2008) citam em seu trabalho que o tratamento da dor existem diversas abordagens de tratamento conservador, sendo que esse tem sido baseado na correção do alinhamento e do deslizamento da patela no sulco troclear. Desta forma, o tratamento é focado localmente e tipicamente inclue o fortalecimento do músculo quadríceps, com ênfase na reabilitação do VMO, uso de taping patelar, órtese patelar, alongamentos e mobilização de tecidos moles (WITVROW ET AL 2005; VAN ET AL 2004 E MCCONNELL ET AL 1986).

Outro fator importante citado na revisão é a Função dos músculos do quadril no tratamento da dor. Segundo a teoria da cadeia cinética fechada, o complexo lombo-pelve-quadril (centro) tem sido descrito como uma “caixa” composta pelos músculos abdominais anteriormente, pelos músculos para-espinhais e glúteos posteriormente, o músculo diafragma superiormente e a musculatura que compõe o assoalho pélvico e a cintura do quadril inferiormente. O controle do complexo lombo-pelve-quadril na dor é importante, pois ele atua como o core da cadeia cinética funcional, assegurando que o local da inserção proximal dos músculos abdutores e rotadores laterais do quadril seja estável. Acredita-se que essa estabilidade permita a geração de maior torque por esses músculos durante o movimento e minimize o movimento do quadril no plano frontal e transverso durante atividades em apoio unipodal. Estudos sugerem que a diminuição da força ou controle muscular do quadril, especialmente da musculatura abdutora de quadril esteja relacionada às lesões da articulação do joelho e tornozelo (AKUTHOTA, NADLER 2004 E NIEMUTH ET AL 2005).

No trabalho de oliveira et al (2004) tiveram como objetivo avaliar a força dos músculos abdutores, adutores, rotadores laterais, rotadores mediais, flexores e extensores do quadril e dos flexores e extensores do joelho em mulheres com e sem SDFP. Com a  hipótese de que indivíduos acometidos com dor apresentem déficit de força em todos os músculos estabilizadores do quadril e joelho.

Então participaram da pesquisa 45 indivíduos sedentários do gênero feminino que se enquadraram nos critérios de inclusão para o grupo com dor, os quais foram: apresentar dor de no mínimo 3 cm na Escala Visual e Analógica de Dor; ter pelo menos três sinais clínicos que indiquem dor (entre pronação subtalar excessiva, alteração na mobilidade patelar, dor à palpação das bordas patelares e dor na realização do arco de movimento do joelho) e relatar dor em pelos menos duas atividades funcionais (POWERS 2003 E COWN ET AL 2002).

Já para os critérios de exclusão foram: tratamento prévio para dor e história de lesão osteomioarticular em membros inferiores (n=25). O Grupo Controle foi composto por indivíduos saudáveis sem história de dor nos joelhos e de lesão osteomioarticular em membros inferiores (n=20)

Os resultados de confiabilidade teste-reteste foi excelente para abdutores, adutores e flexores de quadril e flexores e extensores de joelho (0,80), com exceção para os rotadores mediais de quadril (0,36) que foi pobre, e boa para extensores e rotadores laterais de quadril (0,48 e 0,55 respectivamente).

Os músculos extensores do joelho e rotadores mediais do quadril de mulheres com dor apresentaram déficit significativo de força em comparação àquelas sem dor. Não foram observadas diferenças significativas para outros grupos musculares avaliados (flexores de joelho, abdutores, adutores, rotadores laterais, flexores e extensores de quadril).

Os resultados mostraram que a musculatura extensora do joelho ainda é a mais comprometida em indivíduos com dor quando comparados aos assintomáticos. Apesar da tendência atual de se valorizar os músculos do quadril na reabilitação (Fukuda et al 2010 e Magalhães et al 2010) os dados reforçam que o trabalho específico para o músculo quadríceps deve ser realizado já que a sua fraqueza representa um fator de risco para o desenvolvimento da dor (LANKHORST ET AL 2012). As mulheres com dor e indivíduos controles e, apesar de encontrarem diferença de 13% entre tais grupos, ela não foi significativa. No entanto, observou-se relevante diminuição de 22% na força de abdutores e 21% de rotadores laterais de quadril em mulheres com dor. Os presentes resultados revelaram déficit significativo de 23% na força do quadríceps de mulheres com dor, porém os rotadores laterais do quadril não apresentaram o mesmo.

E tiveram como conclusão que apesar de nem todos os grupos musculares apresentarem déficits significativos de força em mulheres com dor e nossa hipótese inicial não ter sido confirmada,nossos dados reforçam a necessidade de fortalecimento do músculo quadríceps, que é o principal grupo muscular estabilizador da patela.

Como apresentados em ambos os trabalho, as causas que levam a dor ainda são incertas, porém com as possíveis causas apresentadas e as possíveis forma de tratamento apresentados seu controle ou até mesmo a ausência de dor são possíveis com os treinamento adequado.

Referêcias

 

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